Sítio cacimbas

Sítio cacimbas
Pedro Cadeira

Sítio Cacimbas:
No teu leste, a diamantina.
No teu oeste, o Cosme Leão.
Ah Belo Monte! Ah Rompe Gibão!
Teus baixios de arroz, tuas capoeiras de algodão, tuas ameixeiras do grotão. São lembranças, são memórias que despertam a mente e o coração.
Na margem do teu riacho, vetusta marizeira de um pé só sem passos, e de muitos braços que abraçavam a imensidão, até que malvado machado, maldita fogueira fizeram, do teu tronco, um montão, deixando sem lar, sem ninho, tantas aves do torrão.
Adeus cacimba do gado, cacimba de beber, adeus velho cacimbão, adeus cinco pés de coqueiros, adeus veredas do gado, adeus noites de relâmpago e de trovão.
Ah, quão romântico teu amanhecer! O cântico dos teus pássaros! Quão poético teu anoitecer! O convite do manto da noite para todo ente adormecer.
Sim, sítio Cacimbas, muitos eram os teus caminhos para os caminhantes do tempo e das pedras que buscavam em ti saciar a sede e matar a fome. Verdadeiramente, foste cacimba de beber, de comer, e de sentir a esperança no dia do amanhã.
Ontem, vim de ti, carregando no espírito a paz, na alma, o descanso, no coração, o consolo, na mente, ideias mil. Hoje, vou a ti, nos meus sonhos de senil.
Os tempos mudaram. Os caminhos são outros, sítio Cacimbas. Ontem tortuosos, hoje, retos. Os rostos já não são com eram dantes, sitio Cacimbas. Uma terra que ontem, para mim, era tudo, e, hoje, tanto busco em ti, do meu tempo, e não encontro nada.
Lembranças de ti, efêmeras na mente, eternas no coração, das alegrias e dores da minha adolescência , da luta da minha família, da coragem e do sacrifício do meu Pai.
Da tua flora, o pé do angico com galhos tremulando ao vento, dos pés de oiticicas, espaço mimético ideal dos traiçoeiros camaleões, da carnaúba com suas palmas sedutoras, da braúna, da aroeira, do cumaru, do juazeiro , da espinhenta jurema e do suave marmeleiro.
Da tua fauna, o galo campina com seu canto festivo no sol das manhãs; a sabiá laranjeira, a caldo de feijão e a cascavel, os anuns brancos e pretos , o João de Barro caseiro, e a codorniz com seu canto triste que saudava o entardecer.
Assim eras a terra que me viu crescer.
Dela parti para renascer.
Com certeza, ela não será o meu repouso quando adormecer.